A vida é permeada de
fronteiras. Sejam delimitações físicas que sufocam as saudades, ou invisíveis
linhas que invadem a intimidade.
Difícil essa arte de saber
até onde ir. A opinião construtiva pode desconstruir amizades. O conselho pode
julgar em vez de alinhar.
A boa intenção não cabe na
invasão.
O universo das relações
humanas sempre foi esse quebra-cabeça. Cada peça vai segmentando nosso
relicário de afetos. Nunca sabemos ao certo se não ultrapassamos algum sinal.
A sensibilidade de cada um
dá as cartas.
E foi depois que
reencontrei uma amiga essa semana no shopping que parei para pensar. E como
sempre, esse pensamento começou a crescer na minha cabeça, como um bolo de
fubá.
Vou contar sobre esse
encontro, para saborearmos juntos uma fatia do bolo.
Depois do abraço quentinho,
no meio da praça de alimentação, comentei o quanto ela estava bonita.
A beleza sempre fez parte
daquele rosto colorido, mas tinha um algo a mais naqueles olhos azuis.
No bate papo inicial ela
me contou do novo emprego, da tranqüilidade da sua rotina atual.
Avaliamos os benefícios da
reviravolta, do cotidiano longe do jornalismo. Mais do que um maior retorno
financeiro, ela encontrou o pote de ouro no final do arco-íris.
Sim, ela agora tem “tempo”!
Esse precioso e
revigorante elemento, que muda a vida das pessoas. Um tempo que antes era
engolido pela rotina frenética de uma redação. Por notícias que não podiam
esperar. Por tragédias que precisavam ser contadas, pela denúncia que saltava.
Enquanto isso o mundo girava
e os seus desejos ficavam guardados debaixo da cama. Para amanhã, para depois de
amanhã. Para algum dia. Esverdeando, perdendo o viço.
O que os olhos azuis me
contaram naquele encontro no shopping incluíam uma nova rotina. Novos ares, mas principalmente a leveza
do convívio com o amor incondicional.
O seu novo tempo permitia - entre outras coisas - participar da rotina das terapias especiais da filha.
Uma relação linda, e que
agora contava também com acompanhamento intensivo. O tempo dava bem mais que minutos, dava o cordão umbilical. A filha tinha agora sua mão
segura, todos os dias e horas.
Como resultado, seu
desenvolvimento evolui!
Minha surpresa veio quando
ela disse que a decisão de virar a mesa teve influência em uma conversa nossa.
Foi na minha invasão de
fronteira que chegou o empurrão que ela precisava. Não lembro exatamente o que
eu disse. Mas imagino que tenha sido alguma coisa como:
- Não temos tempo a
perder!
Acho que a influência da
poesia do Legião Urbana na minha vida foi mais forte do que eu imaginava.
Fiquei emocionada com essa
nossa história. Esse encontro não saiu mais da minha cabeça nos últimos dias.
Então resolvi escrever.
E agora enquanto as linhas
iam surgindo me dei conta do que enxerguei naqueles olhos azuis. Eu vi paz. Esse sentimento
tão perseguido, vizinho de porta da felicidade.
Por isso a receita desse
meu bolo de fubá inclui o desejo de que nesse mundo sem fronteiras, as nossas
palavras sirvam para invadir boas mudanças.
Bom proveito!
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