sábado, 3 de março de 2012

La ninã e a vida

Foto: Nauro Júnior

Nunca consigo assistir às películas anunciadas na TV por assinatura. Sempre penso em me programar, mas a nossa rotina de solavancos não deixa.

Essa semana a TNT anunciava uma série de filmes ligados à intensidade da vida e da morte. Estranha definição, mas foi assim que entendi.

Não consegui assistir a todos, mas dois deles me deixar em pleno turbilhão.

O primeiro foi “Noites de tormenta”, com Richard Gere e a Daiane Lane. O filme é extremamente simples, mas daqueles que nos deixa com uma família de pulgas atrás da orelha.

Além da fotografia maravilhosa do Affonso Beato, que estará pelas bandas do sul com “O Tempo e o Vento”, o argumento se baseia nas nossas escolhas.

Ela faz o papel de uma esposa, que depois de traída, resolve tirar uns dias na praia para pensar no rumo que dará à sua vida. Enquanto isso o marido arrependido fica em casa com os dois filhos, insistindo por telefone em que a mulher o perdoe.

Nessa casa de praia ela hospeda um médico desconhecido, que vai até o vilarejo à procura do perdão da família de uma paciente. A mulher morreu durante a cirurgia e a família move uma ação contra ele, acusando de negligência.

O encontro dos dois acontece ao mesmo tempo em que o lugar espera a chegada de um furacão.

Na noite em que os ventos assolam a região os dois se enxergam de verdade. O romance começa. Ali ambos se despedem de um caminho da vida e começam outro.

Não vou contar todo filme. Mas posso garantir que naquele ponto da vida eles fizeram uma escolha. Decidiram descer na estação e pegar o mesmo trem.

O outro filme é "Antes de partir", com a dobradinha magnífica formada por Morgan Freeman e Jack Nickolson.

Os dois se conhecem no quarto do hospital. Recebem ao mesmo tempo a notícia de que estão com câncer terminal. Com a sentença do médico decidem chutar o balde. Fazem juntos uma lista de coisas que sonham em fazer antes de morrer.

E com esse propósito se livram dos catéteres, quimioterapias, aventais azuis e se jogam de bunge jump na vida.

Em ambos os filmes os protagonistas seguiram juntos a partir daquele momento de encontro. Um novo caminho. Independente do que tenha acontecido no final do filme, eles partiram juntos.

E foi exatamente isso que me tocou. As metáforas diárias da nossa vida. Os encontros e partidas.

Como no filme do Richard Gere, o vento volta e meia varre as nossas certezas. Leva adiante aquela caixinha de argumentos que criamos para justificar nossas decisões.

Quantas vezes calafetamos a casa para que a água não entre. Mas a vida é exatamente como a natureza, não tem previsões. Por mais que aponte para dias ensolarados, La niña pode chegar com seus caprichos.

E então a enxurrada nos surpreende.

No roteiro da dupla que descobre o câncer, a espinha dorsal do filme nos inspira a fazer uma lista imediatamente. Por que esperar a tempestade?

Mas assim caminha a humanidade e por mais que saibamos, permanecemos inertes. Com medo de alguma coisa. De algo que nem mesmo sabemos.

Os dois filmes têm o poder de remexer nas frestas que acreditamos tapar com buchas de algodão. No final do filme meu quarto foi inundado obviamente.

Por mais que a gente insista em perpetuar a vida, ela está em constante ebulição. São as tais chegadas e partidas, sempre à frente da nossa estrada.

Sem mais nada a declarar, deixo o final para o Milton Nascimento...

“São só dois lados da mesma viagem,
O trem que chega é o mesmo trem da partida,
A hora do encontro é também de despedida,
A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar,
É a vida!"

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Gabi..! Costumo ler tuas anotações mas não comento...mas desta vez só queria registrar junto contigo que acho isso mesmo..vi os dois filmes..! parabéns pela delicadeza, clareza e transparencia! Bjus, Simone Pons.