sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Alex Atala


Fotos: Marcos Vilas Boas

Nos últimos cinco anos o Nauro e eu nos debruçamos em construir a nossa lista de desejos todo dia 31 de dezembro. Quem já veio aqui em casa viu um papel todo rabiscado, colado na lateral da geladeira.

O ritual é sempre o mesmo. No final da tarde do último dia do ano, fazemos um mate, sentamos na sala, e começamos a avaliar os itens riscados nos 364 dias anteriores.

É comum sair alguma briga. Eu por exemplo achando que um sofá novo para sala é prioridade e ele defendendo a compra de uma lente melhor para o nosso equipamento fotográfico.

E assim passamos pelo menos uma hora em meio a debates e risadas. O conteúdo dos desejos da lista varia. Vão desde coisas simples e possivelmente banais, até ousadias, ou quem sabe “sonhos”.

Não sei se é psicológico, ou se Freud teria alguma explicação, mas a coisa funciona bem.

Só para situar e até mesmo contabilizar os resultados: ambos tivemos casamentos anteriores e quando ficamos juntos tínhamos meia dúzia de quinquilharias para juntar, além das tais escovas de dentes.

Eu, além do meu fusquinha, ainda cheguei com uma fatura do Credicard com parcelas a perder de vista. Ele tinha um barco velho e um tal sofá preto horroroso, mas cheio dos valores sentimentais (custei a convencê-lo a desapegar da tal relíquia, mas ano passado consegui - ufaaaa!)

E assim foi nosso começo de vida.

Realmente não sei que mágica fomos fazendo ao longo dos anos, mas quando olho para trás vejo que alguma estrela brilhou no nosso céu.

Nos primeiros anos contamos muito com a sorte e alguns chutes na lua. Um bom exemplo foi a forma com que compramos nosso terreno (que aos poucos cresceu). Em um mesmo ano (2004) ele ganhou dois concursos de fotografia nacionais.

Com a grana dos prêmios, arrebatamos nosso chão. Tá certo que o artista é talentoso, mas se eu não tivesse inscrito as fotos...nada feito meu amigo!

E assim seguimos até a lista de 2011, da qual quero falar.

Este ano elencamos muitas coisas práticas, como pintar a lareira, colocar um portão eletrônico na porteira, comprar uma geladeira nova, enfim, necessidades materiais.

Mas a melhor parte da lista são os desejos que enchem a alma, e é deles que eu mais gosto. Um dos meus sonhos para esse ano é jantar no restaurante do Alex Atala, em São Paulo.

Sou louca por gastronomia e a cada ano fico mais encantada com a relação da comida com a vida. É uma coisa mesmo de tempero dos sentimentos, sabor de lembranças, olfato da memória. Sei lá o que, mas mexe por dentro.

Um dos livros que mais me encantou foi o “Afrodite”, da Isabel Allende. Eu já era fã de carteirinha, mas quando ela se jogou em uma verdadeira incursão sobre a comida e os sentimentos, não resisti.

E foi aí que comecei a colecionar vontades ligadas à gastronomia. Hoje me delicio assistindo a programas de chefs malucos, certinhos ou exóticos. Adoro filmes relacionados a vida e comida.

E foi por isso que o meu grande desejo de 2011 está relacionado a esse contexto. Já resolvi:

- Este ano vou jantar no D.O.M. e bater na cozinha do Alex Atala para conhecê-lo pessoalmente.

Não sei ainda que mágica vou fazer, mas a verdade é que antes do dia 31 de dezembro deste ano vou ter o prazer de riscar esse item da lista. Podem acreditar!

Enquanto isso não acontece, deixo aqui uma foto desse cara fantástico, que revolucionou a culinária moderna e seu restaurante está entre os 50 melhores do mundo.

Mas não se preocupem, ele não atende assim como está nas fotos Esse foi um ensaio para a Revista Trip.

(Se bem que não seria de todo mal...ahahahahahah!)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Esplendor dos contrários


Foto: Paulo Rossi
Ontem no final do dia eu estava especialmente cansada. Ando numa semana puxada, cheia de probleminhas de trabalho, que andam deixando meu estômago enrolado.

No final do dia fui buscar a Sofia na aula de tênis, e com aquele lindo fim de tarde ela me pediu para dar um último mergulho na piscina. Aproveitei a deixa e pedi cervejinha bem gelada, no bar do clube, acompanhada de uma porção de iscas de peixe à milanesa.

Era tudo o que eu precisava para achar o epicentro da minha tempestade naquela quarta-feira.

Dei um afobado gole de cerveja. Ela parecia ter fermentado especialmente para aquele momento. As iscas de peixe estavam crocantes e, com o molhinho de pimenta, fizeram me sentir em uma propaganda da CVC.

Tudo estava de cinema, até que o meu celular tocou.

Do outro lado um marido impaciente, reclamava que estava cansado, louco para ir para casa. Como só temos um carro e moramos lá onde o Joãozinho perdeu as meias, tive que editar o roteiro desse filminho.

Tirei a Sofia da piscina sob protestos, sequei, vesti e abandonei as minhas iscas (que só em descrever já me deixam com água na boca) e fui buscá-lo no jornal.

Embarcaram no carro ele e minha enteada. Antes de pegar o rumo das casas, ele me diz:

- Vamos dar uma passadinha ali na Balsa?!

Para quem não é de Satolep, esse é o nome de um bairro na zona do Porto, onde ficam pequenos estaleiros de barcos. A intenção, revelada no decorrer do percurso, era ver se a nossa lanchinha estava pronta, depois de uns reparinhos no motor.

(Agora uma pausa para localizar os leitores no tempo.)

O Nauro tem um fascínio, que não sei explicar, por duas coisas: indiadas e parafernálias. Eu não posso dizer velharias, porque a definição viraria contra mim. Ele brinca que é por isso que se casou comigo, já que tenho míseros seis meses a mais do que ele.

Mas a verdade é que desde que casamos ele já comprou uma lista interminável de cacareco. Sempre com argumentos incríveis e convincentes. Não sei como!

E isso entre veículos de água e terra. Por sorte nunca pintou um teco-teco modelo Santos Dumont de barbada. Melhor nem dar a idéia!!!

Nesse currículo de veículos - que de preferência dêem muito trabalho e pouco uso - posso citar: uma moto Java do tempo das cavernas – acho que era do Fred Flinston, um reboque velho que foi praticamente “içado” de Novo Hamburgo até Pelotas, uma Kombi a diesel que quase virou floreira do jardim, além da Rural bipolar, que só liga quando está de bom humor. Esta, no momento, repousa na nossa garagem se querem saber!!!

E como com os barcos não poderiam ser diferentes. Voltemos então ao longo dia ontem...

Deixei-o no tal estaleiro para que trouxesse de volta, ao aconchego do nosso trapiche, a lanchinha nova. Ela é fruto de um câmbio, feito há alguns meses, por outro barco, o Inca

*Nota da redação: não é fácil compreender esse emaranhado de “aquisições”, seria necessário fazer uma verdadeira árvore genealógica das quinquilharias, para melhor compreensão dos leitores.

Cheguei em casa, fiz o jantar, comi, coloquei a camisola...e nada. Até que lá pelas cansadas ele liga:

- Oi meu amor...fiquei empenhado, a lancha parou aqui na boca do Arroio Pelotas!

Pronto, pensei, o programa ficou completo!

Mas ele só queria avisar para eu não me preocupar. Já tinha acionado o socorro do nosso vizinho Diego, que iria rebocá-lo. A estas alturas os mosquitos faziam procissão pelas redondezas.

Quando chegou, eu já estava quase dormindo. Mas não me contive quando vi a cara dele. Chegou faceiro, animado, como se estivesse vindo de uma festa.

Dei uma risada e percebi que aquilo que a meu ver seria um problemão, pra ele foi pura diversão.

Ele curte o “ficar empenhado”. O legal é exatamente isso, a busca pela solução. Catar um mecânico tarde da noite, achar um barco pra rebocar, puxar um canivete do Magaiver, engraxar a roupa limpa e, se bobear, ainda fazer uma canoa com meia dúzia de juncos pra chegar em casa.

É uma coisa incompreensível, mas é a mais pura tradução do meu marido. O legal é exatamente achar graça dessas diferenças. Esse é o verdadeiro esplendor dos contrários.

Com o convívio, percebi que a gente passa muito tempo buscando a perfeição no casamento. Perde-se muito tempo e se gasta muita energia inutilmente. Na verdade, o bom dessa comunhão, é o diferente.

Imagina se fossemos iguais? Não ia ter graça.

Além do mais teríamos que adquirir mais alguns hectares de terra para guardar a sucata que arrebataríamos por aí afora!!!

(Desculpa meu gordinho, não resisti!! Ahahahahahahha)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fruto



Sabe aquela história que o fruto nunca cai longe do pé?

No caso da paixão pela melancia, a carga genética caprichou na dose. Enquanto não publico o novo post, deixo essa foto clicada pela querida Miza Limões durante o Desgarrados de Satolep 2011.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Recomeço

Foto: Nauro Júnior

Depois de algumas semaninhas de recesso estou de volta ao blog. Acordei disposta ao retorno. Acho que o fato de ter lido logo cedo a mais recente crônica da jornalista Eliane Brum, na Revista Época, me ajudou.

Ela reproduziu, em meio a uma profunda análise sobre a vida, alguns trechos de uma entrevista de Clarice Lispector ao psicanalista Hélio Pellegrino. Em dado momento ele diz:

"Escrever e criar constituem, para mim, uma experiência radical de nascimento. A gente, no fundo, tem medo de nascer, pois nascer é saber-se vivo – e, como tal, exposto à morte".

Adoro ler coisas que pareçam traduzir na palheta os meus sentimentos. Alguns autores têm esse talento exageradamente. Comigo a Eliane Brum é um caso de “nunca te vi, sempre te entendi”. É uma simbiose incrível, de sentimentos parecidos e fases paralelas.

Obviamente que ela nem sonha da minha existência. Mas voltando a vaca fria.

Um bom recomeço exige sonhos frescos. Por isso quero eles à granel nesta nova jornada. Lindos, gordos, lustrosos e prontos para serem consumidos.

Mas nada muito exagerado e impossível. Vou deixar a mega-sena para outra encarnação. Quero me dedicar a causas palpáveis, pelo menos com o fio terra no chão. O resto do corpo pode levitar.

Me contendo com algumas tardes de happy hours quando a semana estiver tensa. Também seria bom “chutar o balde” vez que outra, para pegar um cineminha no meio da tarde.

Não sou consumista, mas talvez invista em algum supérfluo. Depois da sandália de salto alto de 2010, quem sabe uma bota de inverno para ver o frio das alturas?

Quero chorar aos quilos, mas rir às toneladas. Não quero hibernar no inverno, nem esperar a primavera para florescer. Quem sabe descobrir onde fica o termostato e ajustá-lo à beleza de cada estação.

Ah, e a gastronomia. Quero me dedicar mais aos prazeres da vida. E a comida tem ligação direta com a alma. Seja em casa, debaixo de uma paineira, ou no restaurante do Alex Atala. Não interessa o contexto. O que importa é não deixar de sentir o sabor singular das confissões que surgem na volta de uma mesa.

Quero brindar a vida. Beber estrelas. Tomar milhares de litros refrescantes da mais pura e cristalina água.

Nesses 300 e poucos dias que ainda temos em 2011, quero renascer muitas vezes. Aqui, escrevendo, e lá fora, sentindo o vento no rosto.

E depois de chorar bem alto, aprender a caminhar. Descobrir as palavras mais legais e soltá-las ao vento. Não deixar de dizer.

Em suma, quero tudo ao mesmo tempo. Dias de paz, mas cheios de intensidade.

E como disse o Hélio Pellegrino a Clarice Lispector:

“Viver bem é consumir-se, é queimar os carvões do tempo que nos constitui. Somos feitos de tempo, e isso significa: somos passagem, somos movimento sem trégua, finitude. A cota de eternidade que nos cabe está encravada no tempo. É preciso garimpá-la, com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa fulgir em nosso lábio. Se assim acontece, somos alegres e bons, e a nossa vida tem sentido".

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Recesso

Gente querida!

Tirei uns dias de férias do meu divã-virtual. Em alguns instantes estarei de volta.

bjs e saudades