segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um colega meu

Quando éramos pequenas a Kiki (minha irmã) chegava em casa do colégio sempre contando um apanhado de novidades. Eram estórias mirabolantes, que aquela cabecinha infantil imaginava e descrevia com uma riqueza de detalhes singular. Mas nós, de casa, desconfiávamos que o personagem traquinas das estórias, era ela mesma. Só que quando resolvíamos perguntar quem tinha feito tamanha arte, ela arregalava aqueles olhos da cor do mar, e respondia séria:

- Foi um colega meu, ora!

A frase ficou célebre na infância e cruzou a adolescência como uma velha sátira. Muitas risadas foram dadas ao lembrarmos dessa tirada. Imaginem, ao melhor estilo "saindo pela tangente", e criada em plena década de 70.

Mas não é que o mundo gira, e quando menos esperamos “o colega meu” bate novamente à nossa porta?

Semana passada estávamos levando a Sofia no colégio, quando encontramos a mãe de um colega da Sofia. Era sexta-feira e ela perguntou o que achávamos de na saída da aula, Sofia ir direto para casa do Pedro, para brincarem juntos. Dessa vez fui eu quem arregalou os olhos e perguntei:

- Lorena, é a primeira vez que a Sofia vai brincar na casa de alguém, como funciona? Eu não sei nada do assunto ainda!!! A que horas eu busco, o que eu faço?!

Cena ridícula, eu sei. Mas era exatamente assim que eu me sentia: perdida. Trocamos celulares e combinamos que eu ligava mais tarde para buscá-la. Chegou perto da hora de terminar a aula, o meu piloto automático fez com que eu pegasse a chave do carro e me dirigisse à garagem. Foi aí que me liguei que não era para buscá-la, que ela estava na casa de “um colega meu”.

Naquele par de horas fiquei pensando tanta coisa. Imaginando que dali em diante as novidades iam ser cada vez mais intensas. Prazeres como esse, de estar na da casa dos amigos, cheios de autonomia, só iam somar à lista de programas da Sofia . Para mim, que sou uma manteiga derretida, tudo é motivo para crise, e naquelas duas horas de espera tive uma em versão fast food. Viajei tão longe, que cheguei a enxergar a Sofia e o Pedro colocando as mochilas no carro, e indo acampar no Uruguai. Nesse ponto não me contive, e liguei para Kiki me lamentando, em mais um momento pós-cordão umbilical. Ela riu de mim, e aproveitou para lembrar que de agora em diante a coisa só piora.

Legal Kiki, valeu!

Mal bateram às 20h e eu já estava à caminho, pegando o Nauro no jornal para irmos buscar a nossa Cinderela. Chegando na casa do Pedro, encontrei a Lorena e a Geórgia aos risos com as tiradas da duplinha. Eles se divertiram muito e obviamente a Sofia já queria combinar um novo encontro. Na saída, para amenizar a saudades do amigo, ela levou um brinquedo dele emprestado, para passar o final de semana com ela.

Adivinhem o que?

Nada mais simbólico do que o colorido castelo do Pedro. Tudo bem, eu me recupero. Mas o principal dessa história, é que a princesa volta para casa com o castelo do príncipe debaixo do braço, ao melhor estilo das fábulas modernas. E termina o dia são e salva, tomando uma mamadeira de leite com Nescau, no colo da sua mamãe!

Ufaaaaaa!!!!

domingo, 25 de abril de 2010

Pós-Sampa

A ida à São Paulo foi bem legal. Corrida claro, mas deu tudo certo e a cidade de cimento não me raptou. Como sempre alguma coisa engraçada tem que acontecer. No dia da tal reunião, acordei às 6h para fazer tudo com calma. A primeira surpresa foi ter esquecido a pasta de dentes. Tudo bem, enchi minha escova de dentes de xampu e fiz um bochecho pra lá de perfumado. Quase vomitei, mas deu pra despistar. Logo depois do banho me dei conta de que agora era a vez da escova de cabelos. Bingo, tinha esquecido também. Logo eu que sou mega-organizada. Não sei o que aconteceu, acho que foi ato falho mesmo. Me olhei no espelho com aquela cara grunge e pensei:

- Desse jeito não dá!

Daí olhei para o secador de cabelos e tive a brilhante idéia de usar uma piranha de cabelo e o secador para “amainar” as madeixas da Maria Betânia. Exato, era assim que a figura do espelho me abanava. Como a filha de Dona Canô, recém saída da montanha russa. Agora calcule, como diria meu amigo Carlos Etchechury!

Mas fora esse probleminha estético, tudo deu certo e nossa reunião foi um sucesso. Chegando de volta à Pelotas, com a função do feriado, acabei deixando o blog meio de lado. Além de colocar em dias os compromissos de trabalho, estava com a função da vacina da Gripe A, ainda pendente. Tínhamos que fazer, e a coragem ainda estava escondida em algum lugar. Eu pensava que a Sofia poderia ter reações e acabava sempre postergando. Até que na quinta-feira acordamos e decidimos que não dava mais para levar esse assunto adiante.

Com o atestado na mão, nos dirigimos ao postinho de saúde do Areal fundos. A Sofia já estava com os olhos arregalados, esperando a hora “H”. A vacina dela seria na clínica particular, já que me disseram que a conjugada (gripe comum + Gripe A) era importada e com menos chances de efeitos colaterais. A enfermeira chamou nossas fichas e entramos os três na salinha da enfermeira. Ela perguntou quem seria a primeira, e eu me adiantei. Pedi para Sofia me dar a mão e me segundos o caso estava resolvido. Ela seguia com olhos atentos, e assim observou as reações do Nauro, na hora do “pic”. Terminada a primeira etapa seguimos para o centro, onde ela seria a paciente da vez.

A sala de espera da clínica estava cheia de carinhas nervosas, assim como a dela. Para descontrair, puxamos assunto com algumas crianças e seus pais, tão aniosos quanto nós. O primeiro guri da fila entrou sorrindo mas em poucos segundos já ouvimos seus berros angustiados. Foi se como uma sirene de emergência tocasse e todos rostinhos nervosos procuraram o colo de seus pais. Ela se agarrou ao Nauro e não desgrudou mais.

Chamaram o nome dela e entramos conversando, ainda na tática-distração. Ledo engano, ela estava nervosa e chorou compulsivamente até ver a agulha ir para o lixo. A enfermeira era hábil e nem sangrou, o que foi comemorado por ela, já secando as lágrimas e se sentindo a mais corajosa do mundo.

Saímos dali todos aliviados, com a sensação de dever cumprido. Entramos no carro e eu disse:

- Viu só Sofia, todo mundo agüentou firme e nem doeu!

E ela me responde cheia de grau:

- É mamãe, nós aguentamos, mas eu vi a hora em que o papai fechou os olhinhos!

(ahahahhahahahahhahahah, Naurinho amado, eu não poderia deixar de contar essa!!!)

sábado, 17 de abril de 2010

Sampa

Domingo embarco para São Paulo, para um compromisso de trabalho na segunda-feira pela manhã.

Adoro ver essa metrópole...mas de longe.

Não sei que sentimento é esse, que os tempos de hoje me fizeram sentir pela cidade do cimento. Quando eu era adolescente, minha prima Andréa morava lá e as férias de julho era esperadas ansiosamente, com o objetivo de passar deliciosos quinze dias em Sampa. Era tempo de fazer programas inusitados para nós, que morávamos quase do outro lado do mundo. Era assim que eu sentia. E nesses quinze dias de deleite, eu assistia desde lançamentos de teatros até visitas à maior feira livre que meus olhos já tinham contemplado. O Tio Onofre era o cicerone, e mostrava cheio de orgulho, todas as cores e sabores de frutas vindas de todos os cantos do Brasil.

Domingo era dia de lasanha na casa dos primos paulistas. Dia de muita gritaria na volta de uma mesa repleta de descendentes italianos. Até hoje não saboreei nada parecido como a receita da tia Luluca. Imbatível! Lembro que eu pegava ônibus, metrô e mesmo assim me achava naquele emaranhado de ruas, buzinas e fumaça. Não sei de que jeito, mas dava tudo certo. Até assistir a aula no Colégio Objetivo, com meu primo Márcio, eu ia. Sem falar nos ensaios das dezenas de bandas de rock que ele teve. Vanguarda na veia!

Na casa da Déia passei momentos especiais e era recebida por ela e pelo Marcos com grandes honrarias. Naquele tempo, o hoje consagrado ator Matheus Nachtergale, era simplesmente o Matheus. Amigo querido da Déia, com quem passávamos horas conversando sobre a vida e sobre a arte. Ele tinha mil dúvidas se queria ou não ser ator. Uma coisa totalmente Shakespeare, bem ao seu estilo. Eles dois tinham começado a estudar com o Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho e assistimos ao primeiro espetáculo da trupe. Lembro que a Déia veio toda animada me perguntando o que eu tinha achado. E eu meio sincera e guasca para as profundezas cênicas, respondi:

- Ah, Déia, eu gostei, mas não entendi muito!

Era um tempo de muitos contrates culturais, onde internet nem existia e para se ver as novidades usávamos os olhos e o coração. O mais incrível disso, é que eu saia do interior do "Areal fundos", diretamente para o coração do progresso, e adorava. Hoje só de pensar que tenho que passar 24 horas no meio desse mundo apressado, me dá um frio na espinha. Estou desde ontem remanchando em fazer a mala. Não organizei nada ainda, e olha que eu faço listinha até para ir à Jaguarão. Mas enfim, deve ser resultado das loucuras do mundo atual. Mas será que naqueles idos anos 90 não tinham coisas tão doidas como as de hoje? Ou será que a nossa cabeça era mais solta e menos preocupada com tudo. Será que envelhecer nos trás sabedoria, ou medo?

Nossa, quantos dilemas e quantas perguntas sem resposta para uma simples viagem de trabalho. Vou e volto num tapa, só pra Sampa não achar que briguei com ela. Mas volto correndo, porque nada se compara a paz que eu encontro nesse pedacinho singelo de mundo.

Viva o Areal fundos!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Viver a vida

Vou confessar aqui no meu divã-virtual:

Assisto à novela das oito (que é às nove!) todos os dias só pra ver os depoimentos do final. Mas também confesso que quando a novela começou critiquei:

- Que falta de originalidade do Manoel Carlos, ele já fez isso em uma novela anos atrás!

Mordi a língua. E a cada final de capítulo me pego segurando um engasgo. Às vezes chego a soluçar. Muitas histórias puxam a cordinha de algum sentimento guardado nem sei aonde, e fazem fluir uma cachoeira de emoções. A primeira coisa que penso é na coragem daquelas pessoas em expor suas feridas, na maioria ainda abertas, para milhares de pessoas. Milhares de cabeças e seus julgamentos.

Mas me dou conta que quem passa por uma fogueira, sai vendo a vida de outra maneira. Sai mais forte e menos preconceituoso. Sem se preocupar tanto com a pequenez do “o que os outros vão pensar”. Esse sentimento estranho, que nos aprisiona, nos tira a liberdade de ousar. Percebi que na maioria dos depoimentos, as pessoas foram ao fundo do poço, para depois ressurgirem com a força de fênix. São lições cotidianas de vida. Sem grandes roteiros, mas escritas nas esquinas por onde passamos diariamente.

E o mais incrível disso tudo, é que não paramos para pensar no verdadeiro valor de cada dia. Dormimos e acordamos sem agradecer pelo fato de caminharmos. Por termos dois olhos que enxergam. Pelo simples fato de não termos dependência química de nenhuma droga. Por termos nossos entes queridos ao lado. Por nada ter nos acontecido da hora que acordamos até a hora de dormirmos.

Me dou conta a cada capítulo dessa novela, o quando é preciosa essa vida. E o quanto banalizamos sem querer, o seu significado. A honra de estarmos aqui e agora. E me pego pensando coisas malucas, que vão desde a morte até o segredo que se esconde atrás dela.

E quando me dou conta de tudo isso, quero usufruí-la com mais intensidade. Quero amar mais, ter mais paciência, menos intolerância, mais tranqüilidade.

Quero simplesmente ter a exata noção do quanto é urgente Viver a Vida!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Anjo da Guarda

Domingo à noite eu estava zapeando com o controle remoto da TV entre as cinco opções de canais que temos aqui fora. Era aquela coisa, de uma tragédia da Globo, para uma bobagem da Rede Tv, passando pelo Silvio Santos de sempre, até que me deparei com uma entrevista na Rede Vida. Era uma mesa-redonda e a entrevistada se chamava Clara, uma atriz que eu não conhecia. O programa era tipo um frente-a-frente com Gabi, mas só que em uma rede de TV que nunca assisto, com uma pessoa que nunca vi antes.

O negócio é que entre tantas coisas íntimas que os entrevistadores iam perguntando, uma resposta da mulher me chamou a atenção. Eles perguntaram se ela lembrava de alguma situação de medo. A moça mudou a fisionomia e começou a relatar um assaltou a mão armada que sofrera dentro da sua casa, com a família presente. Pela transformação das linhas do seu rosto, percebia-se o quanto àquela violência urbana tinha sido impactante. Contraponto dos entrevistadores veio logo, com a pergunta:

- E o que você fez?

Ela tornou a encontrar um ar de doçura e disse em meio a um esboço de sorriso:

- Contei com meu anjo da guarda!

Na hora enchi os olhos de lágrimas, ao ouvir aquela declaração tão singela. Realmente sempre acreditei que todos nós temos um anjo da guarda e sempre tive um contato bem afinado com o meu. Lembro de vários momentos de medo ou tensão, desde os tenros tempos de infância, em que me senti segura depois de pedir o reforço do meu guardião.

Mas nos últimos tempos parece que esqueci dele. Tenho andado absorta em assuntos de trabalho, coisas da casa, filha, marido, supermercado, e não tenho olhado para além das coisas visíveis. Semana passada ainda comentei com o Nauro, que estava sentindo um aperto no peito. Era como se de uma hora para outra, pequenas coisinhas “pesadas” começassem a acontecer na nossa volta, tirando a nossa paz. Como se um círculo de proteção estivesse com falha em algum ponto, e por ali entrassem essas coisas.

Foram alguns mal entendidos com amigos queridos, dedos de decepções com outros, e até sensações indecifráveis, de pensar por que, de uma hora para outra, o equilíbrio se rompe.

Sabe quando a gente se pergunta o porquê de isso vir a acontecer, vindo do nada. No meio de uma tarde qualquer. Eu que prezo tanta a nossa paz. Que curto tanto morar no meio do mato e ver a civilização de vez enquanto, tive dias de tristeza e desânimo. E durante esse período, não procurei meu anjo querido. Tenho certeza de que ele estava ao meu lado, mas não lembrei de pedir seus sábios conselhos.

A tristeza já passou. O desânimo também. Mas disso tudo o que valeu foi lembrar do anjo da guarda. Mesmo que ele não tenha esquecido de mim, quero deixar essa conexão mais afinada. Quero proteção contra coisas ruins, saúde para minha filha, segurança para nossa família, alegria para meus dias, carinho para os amigos e muita luz para essa estrada que seguimos.

Mas também quero agradecer por tudo de bom que a vida nos brinda diariamente. Não quero só pedir, quero que o mensageiro também sinta as coisas boas daqui.

"Santo Anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador,
Já que a ti me confiou
A piedade divina,
Sempre me reje, guardes,
governes e ilumines"

Amém

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Blog do Nauro

Bom dia!

Hoje convido à todos para ler um texto que me tocou a alma. Foi escrito pelo Nauro e está no blog dele, Retratos da Vida. Se chama "Três anjos chamados Sofia". Ele publicou ontem, no mesmo dia em que eu deveria estar em SP para um encontro do Instituto Abrace, ONG que integro e onde conheci as pessoas que ele se refere no texto. Por motivos alheios à minha vontade, não pude ir.

Ele conta a história das três Sofias e de nós três, as mães das Sofias. A Maria Julia Miele, que fundou a ONG, é a presidente da entidade e mãe da Sofia que virou luz. A Denise Crispim, mãe da Sofia que aparece na foto com a nossa, é a vice-presidente da ONG e nos deu o prazer de estar aqui no Carnaval, com seu anjo de cadeira roxa.

São duas mulheres incríveis e o nosso encontro há quatro anos atrás foi bem mais que coincidência. O texto do Nauro diz tudo, não preciso falar mais nada. Convido vocês a ler e desejo uma boa semana!

http://wp.clicrbs.com.br/retratosdavida/2010/04/11/tres-anjos-chamados-sofias/?topo=77,1,1#comments

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Parabéns à você


Hoje meu maridão está de aniversário. Ele adora se gabar que é mais novo do que eu. São seis meses apenas, mas ele usa esse semestre contra mim de outubro a abril, com muita força. Mas então hoje emparelhamos, nos 41 aninhos. Bem vividos, podemos dizer.

Portanto, nada mais justo do que dedicar o post do dia para ele, que foi o maior incentivador para que o “Adoro Melancia” existisse. Resolvi falar um pouco dele, mesmo que sem permissão.

Quando a gente decide ficar velhinho ao lado de alguém, temos que acima de tudo admirar essa pessoa. E esse é um sentimento muito forte entre nós dois. Acho que nos amamos porque nos admiramos. E isso eu descobri com a vida. Entendi na prática, o quanto o amor é feito de sentimentos diversos e complementares.

Nesses anos de convívio, acho que conseguimos fazer uma simbiose positiva. Eu aprendi muito com ele. Com esse lado irreverente de ser. De chegar chegando e ter sempre alguma coisa para dizer. Em contraponto, meu lado mais sensível, fez com que ele direcionasse mais as coisas boas para lançar. As palavras ditas serão sempre as flechas lançadas. Mesmo que ditas em forma de brincadeira.

Uma vez dei um livro de fotografia para ele, que se chama “Esplendor dos Contrários”, de Arthur Omar. Aquele título nos tocou e acabamos nos autodefinindo dessa forma. Nossos caminhos deste cedo foram muito distintos. Enquanto eu brincava de boneca na charqueada, em plena infância, ele assinava sua primeira carteira de trabalho como sapateiro, em Novo Hamburgo. Depois veio a adolescência e minhas aventuras se limitavam a acampamentos no Uruguai, enquanto ele voava as tranças em motos e festinhas bem longe do meu mundo. Aos vinte e pouco anos ele foi pai. Eu rodava o mundo de mochila, querendo descobrir o tamanho do mundo e da liberdade.

Foram histórias de vida distintas, mas que estavam traçadas para um destino em comum. E nesse destino, um dia encontramos a nossa paz. Construímos o nosso castelo e geramos a nossa princesa Sofia.

Por isso, no dia de hoje quero externar aqui minha admiração pelo Nauro.

Pelo fotógrafo maravilhoso que consegue captar instantes de vida a cada clique.

Pelo pai apaixonado, que não esconde nunca o imenso orgulho que tem da sua guerreira Sofia.

Pelo marido especial, que respeita o meu jeito tão diferente de ser.

E acima de tudo, pelo companheiro de dores, desejos e sonhos, o qual tenho o prazer de dividir essa vida tão maravilhosa.

Parabéns meu amor!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Era pequeno

Depois de tantos posts densos, vou dar uma aliviada e contar uma história que me aconteceu há uns sete anos atrás. Foi um episódio daqueles que poderia ser trágico, mas por obra do destino foi cômico. Era o ano de 2003 e eu, recém separada do meu ex-husband, tentava vender meu fusquinha bege-esverdeado, ano 81 (esse era novinho!!). Eu tinha ficado com esta relíquia na “divisão dos bens”. Abri mão até do sofá da sala, mas o meu fusquinha não arredei o pé. Nossa!!! Quantas aventuras ele testemunhou, sempre firme e forte. Nos tempos da faculdade eu só ligava no piloto automático e ele ia sozinha pra Colônia Z-3, onde fazíamos um jornal comunitário para os pescadores.

Mas enfim, eu estava recém-separada, cheia de contas para pagar e o meu fiel escudeiro precisava dar o corpo em sacrifício. Anunciei nos classificados do Diário Popular num domingo. Várias ligações, algumas visitas e muitos olhares indecifráveis. Eu não entendo as caras desses homens que vem olhar carro para comprar. Eles fazem que nem a gente na adolescência. Uma cara de não to nem aí, mas quero muito. Depois de dezenas de espiadinhas no motor, eu cheguei a conclusão que algo muito grave deveria ter por trás daquela tampa.

Com a demora na decisão dos meus compradores em potencial, tive a brilhante idéia de levar o meu Fusca-bala para o “feirão de usados” da avenida Duque de Caxias. Nem achei tão ofensivo o título, já que o meu possante era mesmo usado. Aquela coisa sabe, pobre, mas limpinho. Bueno, então para me acompanhar nessa empreitada é óbvio que convoquei minha amiga-de-fé-minha-irmã-camarada. Sim, a minha querida Moby, ou Gabriela, como de batismo.

A feira era sempre aos domingos pela manhã. Acordamos cedo, nos vestimos bem bonitinhas, pegamos um mate novo, bolachinhas - pra caso de a coisa se estender, e umas cadeirinhas de praia. Parecia até que íamos tomar banho de sol no Laranjal. Mas a missão era mais árdua.

Chegamos por volta das 9h30 na feira, e parecia que já era meio-dia. Aquilo abarrotado de gente. Carros, cadeiras, gente, uma loucura. Na hora percebi que a nossa estratégia foi falha, mas não desistimos. A Moby, com seus olhos de lince, logo localizou um único espaço vazio entre as centenas de carros que nos cercavam. No que ela me mostrou o lugar, eu dei o pisca e fui me enfiando na vaga. Eis que surge um Vectra prateado me cortando a frente e se socando no meu lugar. Na hora de manobrar, o maluco me bateu no lado do carro de leve. Eu parei, abri a janela e chamei.

- Poxa moço, o que é isso, não ta vendo a gente aqui?

O cara todo entonado já saiu do Vectra como quem desce de uma nave na lua. É, porque há sete anos atrás, acho que Vectra era carrão. Ele já veio me peitando e dizendo desaforo e ‘mandando” eu tirar aquela geringonça dali. Eu não acreditei. Perguntei:

- O que???? Essa geringonça é o meeeu carro?? E o senhor ainda me bateu!!

E ele saiu dizendo mais meia dúzia de "delicadezas” pra cima de nós. Já se juntava um bolinho de curiosos na volta dos carros e me subiu o sangue. Eu coloquei a cabeça para fora da janela e disse:

- Pois o senhor, pra estar falando com mulher desse jeito, deve ter o “p..” desse tamanhinho!!! (e mostrei o meu dedo mindinho como "exemplo" do assunto...pra quê?!)

Gente, esse homem se transformou no Incrível Hulk. Ele veio com tudo pra cima de nós. Mandou sairmps do carro e chamou a polícia. Detalhe: ele era a polícia!!! Era um policial de folga, que estava indo vender o carrão.

Pronto, me ferreir. Ele chamou a polícia e os Azuizinhos. Imagina o bafão em pleno feirão da Duque de Caxias. No bolo de curiosos da volta, nós já conseguimos umas testemunhas pra nos defender. Aqueles que ficam repetindo; “eu vi, ele se provaleceu, veio metendo o carro por cima!”.

Bom, pra resumir, o meu carro estava com os documentos atrasados, acho que o IPVA. O danado do cara conseguiu que meu fusquinha bege-esverdeado saísse humilhado em cima de um guincho, direto para um depósito. A Moby e eu, por conseqüência, que não tínhamos levado grana já que nosso veículo estava devidamente preparado, ficamos a pé. Ou seja, tínhamos dinheiro só para uma passagem de ônibus, e como estávamos no Fragata, tivemos que ir cameliando até a Osório, com as cadeiras e o pic-nic de arrasto. E o pior, humilhadas pelo tal policial à paisana.

Chegamos em casa sãs e salvas. Depois de três dias paguei os documentos e recuperei meu carro. Gastei mais do que tinha com toda essa história e continuei sem conseguir vender o Fusca. Mas de uma coisa eu tenho certeza e é o que me conforta até hoje:

Se ele ficou tão brabo, é porque "era pequeno" mesmo!!!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Palavra de amiga



Uma vez, quando eu estava grávida, uma senhora disse para minha mãe que a Sofia viria ao mundo para nos ensinar muitas coisas. Naquela ocasião, minhas preocupações se limitavam em arrumar o seu quartinho e passar óleo de amêndoas na barriga. Com o desfecho que todos já sabem, e sua chegada prematura ao mundo, comecei aos poucos entender melhor a razão de tal prenúncio. Foram muitas lições nesses quatro anos de vida.

A última delas aconteceu nesta Páscoa. A Sofia passou semanas esperando ansiosa pela chegada dessa data especial para ela, e todos que habitam o universo infantil. Junto com a felicidade em aguardar os ovos de chocolate e guloseimas, ela tinha um compromisso sacramentado: entregar os bicos para o Coelho da Páscoa. Desde que entrou para o colégio, no início de março, a pressão externa em função de ela chupar o tal bico, é cada vez maior. Mesmo que ela jamais colocasse o bico na boca durante as aulas, na hora que pisava fora da sala me pedia para alcançá-lo e logo saia acariciando o seu amigo de plástico.

Mas no sábado à noite, depois de prepararmos a bandeja com água e cenoura para o Coelho, e posicionarmos estrategicamente ao lado da porta de entrada, veio o momento tão temido. Ela tinha prometido que daria os bicos ao Coelho. Finalmente chegou o dia. Segurei-a pelas mãozinhas e perguntei:

- Meu amor, tu queres mesmo entregar os biquinhos para o Coelho?

Ela desconversou e engatou numa conversa fiada, tagarelando sem parar sobre qualquer assunto. Eu olhei para ela de novo e pedi para que me olhasse nos olhos. Repeti a pergunta e acrescentei.

- É uma decisão tua minha filha, não tem problema nenhum, é só me dizeres o que queres fazer.

Ela deu um suspiro profundo. Daqueles que busca coragem no fundo da alma, e no alto de seus quatro anos de idade me estendeu a mão decidida.

- Toma mamãe, pode colocar aí pro Coelhinho levar!

Eu juntei os dois amuletos de plástico da minha mimosa e coloquei na cestinha ao lado da água e da cenoura. Ela me olhou fundo, estendeu o dedo mindinho em minha direção, pedindo que eu estendesse o meu também, e disse:

- Bate aqui, palavra de amiga!

E assim se recolheu para o quarto para a primeira noite longe do seu objeto mais caro.

Assim que ela dormiu chamei o Nauro na sala para contar o feito e mostrar a coragem da nossa filha. Nos desatamos a chorar os dois, lembrando da primeira vez que ela teve contato com esse subterfúgio emocional, ainda no hospital. Ela completava um mês de vida na UTI e nunca tinha vestido uma roupinha, já que lá os bebês ficam só de fralda, em berços aquecidos. Naquele dia, ela teria que fazer sua primeira tomografia computadorizada do pulmão, para ver a quantas andava a tal bolha que não parava de crescer dentro dela. Como era muito pequena, o desafio era levarmos até um outro hospital e fazer o exame sem que ela se mexesse na máquina e nem acordasse durante todo procedimento.

Preparamos uma verdadeira operação para levá-la até à Santa Casa, já que decidimos ir de carro, em vez de ambulância, mas com uma enfermeira, oxigênio e o médico ao lado. Preparei com carinho a roupinha que minha Voinha tinha feito para ela e começamos a vesti-la pela primeira vez. Auxiliada por duas técnicas de enfermagem da UTI, percebemos que ela estranhava a roupa e começava a chorar. Foi aí que uma delas trouxe uma luva cirúrgica com um algodãozinho na ponta do dedo e colocou na boquinha da Sofia. Ela recebeu aquele primeiro biquinho como um conforto imensurável. Começou a chupar e em pouco tempo estava calminha.

Fizemos o exame e ela dormiu durante todo o tempo, chupando sem parar seu novo amuleto contra as dores do corpo e da alma.

E assim foi durante esses quatro anos. O bico para ela foi bem mais do que um simples vício de criança. Foi uma segurança, um afago, um carinho para enfrentar os exames rotineiros, remédios amargos e fisioterapia constante. Por isso naquele momento de tanta coragem, meu coração ficou apertado e chorei como criança abraçada ao Nauro. Tem que ser muito valente para encarar uma decisão dessas. Eu não sei se conseguiria. Mas como essa figurinha veio realmente ao mundo para nos ensinar, eu prometo que vou ser mais corajosa daqui pra frente.

Palavra de amiga!